ARTIGO: CORONAVÍRUS JÁ DEVERIA TER ENSINADO UMA COTA DE HUMILDADE ÀS PESSOAS

De médicos e loucos todos temos um pouco, ou muito.

O novo coronavírus já deveria ter ensinado uma cota de humildade às pessoas, mas ao contrário, conferiu autoridade a muita gente, até políticos, para opinar com segurança sobre o que desconhecem.

Mesmo os especialistas erraram em suas avaliações, previsões e prescrições, mas a honestidade intelectual faz com que revisem os conceitos para errar menos depois. Ao perceber o equívoco, ao ver demonstrado um insucesso, o ressurgimento ou desaparecimento da virose onde não foi previsto, os novos conhecimentos são incorporados e assim caminha a ciência.

O mundo está conectado para o bem e para o mal. Por um lado, pesquisas são conduzidas de forma mais célere, com cooperação on-line, transformando muitos centros em um único laboratório de pesquisas. Por outro, a conexão possibilita que notícias falsas sejam rapidamente disseminadas e implantadas no cérebro de milhões, assumindo ares de verdades, por mais esdrúxulas que sejam.

Recentemente foi divulgada uma atitude perante a pandemia que encontrou seguidores prontos para acreditar, seguir e ecoar. Acatando uma lógica que admite o comportamento dos vírus como se fosse um modelo matemático, foi dito aos quatro ventos que os anticorpos produzidos a partir da infecção pelo Coronavírus seriam suficientes, dispensando a vacinação. Para algumas viroses, a presença do anticorpo realmente é indicativa de que já houve a infecção e que não se repetirá. Isso é válido para rubéola ou hepatite A, mas sabe-se, por exemplo, que a presença de anticorpos contra o HIV ou o vírus C da hepatite pode sinalizar apenas a presença do vírus no corpo, convivendo com o anticorpo, levando vantagem e destruindo o sistema imunológico ou o fígado.

As pessoas que exercem influência sobre a elaboração ou execução das políticas de saúde pública deveriam medir as palavras e gestos antes de emitir opiniões baseados em premissas primárias frágeis, pois serão disseminadas principalmente entre os seguidores incondicionais, comprometendo os resultados da própria política de saúde, com impacto negativo sobre todos.

Cada vírus tem sua maneira de “raciocinar”. No caso do novo Coronavírus, os dados indicam que a infecção confere certa imunidade, aparentemente por vários meses e possivelmente não abrangendo todas as variantes existentes e por vir. As observações sugerem que a imunidade natural pode ser ampliada pelas vacinas, beneficiando tanto quem a recebe quanto a coletividade. Cabe às autoridades em saúde pública, aos virologistas, epidemiologistas, imunologistas, em ação solidária e coordenada, definir a política de vacinação, com base nas evidências científicas disponíveis. Jamais deveria ser uma decisão partidária ou de um pitaqueiro de plantão.

Sérgio Gondim, médico/Foto: Pixabay

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