Segundo ampla matéria publicada pela BBC Brasil [a matéria é de Ingrid Fagundez Da BBC Brasil em São Paulo], em Lagarto, no centro-sul do Sergipe, o WhatsApp também parou de funcionar, mas ninguém parece chateado com o juiz da cidade, responsável pelo bloqueio do serviço no país inteiro. Marcel Maia Montalvão é um ídolo local.
“Aqui ele tem uma repercussão muito grande. Quem quer enfrentar a criminalidade tem um respaldo a favor. É o perfil Sérgio Moro”, diz o jornalista e advogado Adailson Santos, que entrevistou o magistrado quando ele chegou ao município de 100 mil habitantes, em 2015.
A promessa da vinda do juiz era que ele travaria uma guerra contra o tráfico de drogas, um dos principais problemas da região. Na avaliação dos moradores ouvidos pela BBC Brasil, é isso que ele está fazendo ao barrar o aplicativo.
A decisão de Montalvão é uma tentativa de pressionar a empresa a quebrar o sigilo de conversas entre traficantes, para uma investigação em curso desde 2013.
Após 24h fora do ar, o bloqueio ao WhatsApp chegou ao fim nesta terça-feira (3) após o desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe Ricardo Múcio Santana de Abreu Lima aceitar um pedido de reconsideração dos advogados do aplicativo. As operadoras já foram notificadas e devem retornar com o serviço nas próximas horas.
Pelo país, as reações nas redes sociais foram enormes, e houve críticas diversas por um único juiz de primeira instância ter bloqueado um aplicativo em todo o território brasileiro.
Mas advogados, jornalistas e policiais lagartenses consultados pela BBC Brasil definiram Montalvão como, “bem preparado” e “humilde”. Disseram que ele está sempre usando um colete à prova de balas e acompanhado de uma escolta policial. Também anda armado, devido às ameaças que já sofreu. E mais: vive recluso em casa, ameaçado de morte pelo PCC e num carro blindado do Tribunal de Justiça. Leia mais:http://www.bbc.com/portuguese/brasil/2016/05/160503_whatsapp_juiz_bloqueio_if_rm
Quem é Marcel Montalvão
O juiz Manoel Costa Neto escreve que “Marcel Maia Montalvao sempre foi muito estudioso. Passou nos primeiros lugares do curso de Engenharia Química da UFS em 1977. Saiu da Universidade já empregado em empresa petrolífera. Chegou a trabalhar na EXXON, à época, a maior petrolífera do mundo. Foi um dos maiores especialistas em lama de petróleo da América Latina. Ganhava o equivalente hoje a cem mil reais.
Sofreu um acidente numa plataforma de petróleo, quebrou o joelho. Fez um acordo com a empresa para vir ser operado em Aracaju, junto á familia. A operação se complicou. Passou meses em cima de uma cama. Em seguida, ficou de cadeira de rodas, para só depois usar muletas.
Perdeu todo o dinheiro da indenização no Plano Collor. As empresas de petróleo o esqueceram.
Foi viver de mesada do pai aos 40 anos de idade, sem nada. Foi ao fundo do poço. Se fosse um sujeito desequilibrado, meteria uma bala na cabeça ou beberia veneno. Quando pode voltar a caminhar, foi dar aula de matemática em Estância. Assim pode entrar na UNIT para cursar Direito.
Formou-se e, após três anos, passou em 15○ lugar no concurso de Juiz. É um magistrado humano, competente, corajoso e simples. Um sujeito tão sério que “chega a ser chato”.
Deu a volta por cima”.
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- 3 maio 2016
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